Texto: Práticas lectoras democratizadoras

[justify]No texto Prácticas lectoras democratizadoras, Cassany (2011) aponta que a democracia requer uma cidadania que inclui o exercício da liberdade de expressão, o que, além de reconhecer o direito que cada um tem de expressar seu ponto de vista e suas ideologias, também significa dialogar com os que possuem opiniões divergentes para entender suas razões e compreender a realidade de uma forma mais completa. O autor reforça que uma formação em leitura crítica educa os aprendizes para a interpretação das opiniões presentes em um texto escrito e não somente na compreensão de seu conteúdo.  
O fato de a leitura digital ser uma prática corriqueira para muitos alunos atualmente, e de a Internet conter uma variedade de textos e mais diversidade sociocultural (Cassany, 2006), reforça a necessidade de praticar a criticidade. Como exemplos de diferentes perspectivas sobre um mesmo assunto, o autor cita diferentes títulos de notícias sobre um mesmo evento de futebol, uma pesquisa na Wikipedia sobre touradas nos idiomas inglês, espanhol e francês e, por fim, uma pesquisa em espanhol sobre a palavra tabaco. Através dos exemplos, Cassany demonstra que os textos nunca são neutros e que “ler e compreender criticamente significa tomar consciência deste feito axiomático e incorporar na leitura a interpretação da ideologia” (Cassany, 2011, p.34).
No entanto, essa formação de leitores crítico não tem se refletido nos livros didáticos, conforme os achados de López Ferrero et al ( 2008) e Zárate (2010) apud Cassany (2011), uma vez que a maior parte dos livros analisados contém tarefas para serem realizadas individualmente, em que há resposta única e voltadas para a compreensão literal dos textos. Cassay (2011) afirma que para fomentar uma concepção crítica de leitura é preciso praticá-la de maneira mais plural e aberta e apresenta quatro recomendações: a) acesso à diversidade, b) respostas abertas, c) interpretação pessoal e d) fomentar o intercâmbio.
Cassany (2011) finaliza seu texto propondo imaginarmos uma garota que concluiu a educação básica sendo uma excelente leitora crítica, a qual foi exposta a diversas ideologias e diferentes pontos de vista com os quais nem sempre concordava, mas os respeitava. Assim, uma pessoa com essa formação está disposta a negociar, é tolerante e sabe viver em comunidade, sendo, portanto, uma cidadã que pode ajudar a termos uma democracia melhor.

Nesse resumo citamos brevemente algumas recomendações feitas por Cassany. Gostaríamos que vocês comentassem sobre essas recomendações: a que elas referem? Como podemos efetivá-las em sala de aula considerando a atual situação do nosso país? Que outras recomendações podem ser inclusas?

Outra questão que gostaria de levantar é se ambiente virtual é democrático do ponto de vista de liberdade de expressão exposto por Cassany. Há o respeito e a negociação?

Gosto muito do assunto abordado nesse texto, formação de leitores críticos. Comentei no texto que a Ingrid resumiu justamente sobre isso. Trabalhei com materiais didáticos impressos e de fato as questões abertas nem sempre são utilizadas com a frequência que se consideraria adequada. Imaginem só que, até no ensino fundamental I, já se propõem questões objetivas, "de marcar", com a justificativa de que assim os alunos já estariam se preparando para o tipo de questão que seriam trabalhadas nos anos posteriores, ou seja, questões de vestibular. Há uma cobrança por parte das escolas que as questões tenham respostas objetivas, nem que seja "Resposta pessoal" acrescentada de um comentário para o professor trabalhar determinado viés. Ou seja, nem o professor parece ficar "livre" para desenvolver a resposta. Entendo que essas propostas do Cassany podem ser trabalhadas, por exemplo, utilizando-se diversos gêneros que contemplem diferentes interpretações e pontos de vista e promovendo a resolução de algumas das questões em dupla ou grupos maiores, de modo que os alunos possam interagir e partilhar ideias com o outro.

Bom dia, Luciana e Susane,

Realmente, o aluno chega ao fundamental II com o pensamento de que o texto deve apresentar somente uma interpretação;  talvez isso seja o reflexo da preocupação pelos resultados nas provas externas (SPAECE, PROVA BRASIL, etc) não se preocupando com a aprendizagem crítica do aluno.

Dessa maneira, é importante dialogar com as experiências vividas pelos alunos, criar uma teia de informações que levem o aluno a entender que nenhum texto é neutro, embora saibamos que não se trata de uma tarefa fácil, como já foi salientado em outras discussões nossas, muitos alunos chegam com dificuldades em reconhecer informações literais em um texto, então, torna-se ainda mais complexo compreender ideologias e subentendidos em um texto.

A respeito dessa criticidade, creio que deve ser um aspecto presente e pertinente nos livros didáticos. Tive a felicidade de, na escola que estou trabalhando, propor uma nova coleção para ser exploradas a partir deste ano. Diga-se de passagem que foi uma tremenda resistência da própria escola em substituir os antigos livros por essa nova coleção, mas consegui. Nesses primeiros meses de aula, percebi justamente isso em meus alunos, eles estavam habituados a responderem questões de marcar, o que ao meu ver não favorece a criticidade, pelo menos nessa etapa escolar de fundamental II. Quando vamos corrigir as questões propostas, eles sempre querem a "resposta certa", e eu sempre explico que as respostas deles também estão certas, apenas foram ditas diferentes. No entanto, isso é uma grande luta. Quando eu cheguei na escola, mudei o meu estilo de prova, e elas passaram a serem subjetivas. Tal mudança causou desconforto tanto nos alunos quanto na coordenação que afirmava que as provas de marcar eram melhor porque já "treinavam" os alunos para o Enem e para os vestibulares . Enfim, em minha prática pedagógica, defendo que as questões devem ser abertas e reflexivas justamente por elas despertarem os nossos alunos a pensarem e se posicionar frente a um problema social ou outras questões.

Esse vício dos alunos em encontrar uma (e única) resposta correta limita muito a capacidade que eles tem de refletir, discutir e questionar. Certa vez, estava corrigindo uma questão muito crítica, no momento não me lembro a temática, então eu gastei cerca de quinze minutos conversando com os alunos sobre a questão (estava respondendo), quando terminamos e eu passei para a próxima questão eles me perguntaram: professora mas qual é a resposta certa pra gente escrever?
Me deu vontade de morrer rsrsrsrsrsrsrsrs
A escola e os livros didáticos não ensinam o aluno a pensar criticamente, só existem duas opções: certo ou errado. Com essa metodologia perdemos a oportunidade de ensinar o aluno a pensar, a analisar os contextos, a trabalhar as ideologias que nos cercam enfim uma grande perca educacional que a cada dia mais fragiliza a nossa sociedade.